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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Egito faz "ofensiva de relações públicas" de olho no ocidente.


O blog "Ser RP" reproduziu, hoje, texto da BBC News com o provocativo título acima. E fez uma pergunta direta (*). Nós, do OCI, envidamos esforços para um entendimento cristalino do que sejam legítimas relações públicas.

Ambientes pouco iluminados, pouco ou nada transparentes, mercados onde a livre iniciativa tropeça e em cenários em que a liberdade de expressão não atua NÃO são, por princípio e definitivamente, propícios à prática da atividade.

(*) As melhores estratégias de relações públicas estão nas emissoras, que fortalecem o discurso de repressão militar, ou no governo, que expõe as ações dos mass media? A quem atribuir o lobby midiático?

Dito isto, à matéria:

[Que também reproduzimos, a seguir]

TV egípcia agora mostra logo em inglês, dizendo "Egito combatendo terrorismo".

Por Bethany Bell da BBC News, no Cairo.

As principais TVs estatais egípcias, que transmitem em árabe, passaram a exibir nos últimos dias um novo logotipo no canto da tela, com as cores da bandeira do país.

Pela primeira vez na história, tratava-se de uma mensagem em inglês, que dizia "Egito combatendo terrorismo".

Outra emissora, a ON TV - que é privada -, começou a fazer tradução simultânea para o inglês de seus noticiários e talk shows.

Sua cobertura, predominantemente favorável aos militares que governam o país, visa claramente alcançar uma audiência internacional.

O governo interino egípcio e o Exército parecem ter lançado uma ampla ofensiva de relações públicas, de olho no Ocidente.

O assunto é claramente sensível no país, ante as duras críticas vindas dos EUA e da União Europeia por conta da repressão aos protestos que se seguiram à deposição do presidente islamita Mohammed Morsi.

Recado à imprensa

Neste domingo, o chefe das Forças Armadas, general Abdul Fattah al-Sisi, fez seu primeiro pronunciamento público desde a morte de centenas de pessoas após as forças de segurança terem desmontado dois acampamentos de simpatizantes de Morsi e da Irmandade Muçulmana.

Em seu longo discurso - em que declarou que há no Egito "espaço para todos" e que vai "reconstruir o caminho da democracia", mas que a violência não será tolerada -, havia também um recado para jornalistas estrangeiros.

"Não assistiremos ao país ser destruído e incendiado, às pessoas sendo aterrorizadas e ao envio de uma mensagem equivocada à mídia ocidental de que há confrontos nas ruas", disse o general.

O país vive uma espiral de violência desde a deposição - após amplos protestos populares - do presidente Mohammed Morsi, por um golpe militar, em julho.

Enfrentamentos nas ruas deixaram ao menos 830 mortos (70 deles policiais ou soldados) entre quarta-feira - quando começou a repressão aos acampamentos de manifestantes - e sábado.

Neste domingo, acredita-se que ao menos 36 simpatizantes da Irmandade Muçulmana que estavam detidos tenham sido mortos após uma tentativa de fuga.

Amargura

Ainda dentro da ofensiva de relações públicas, as autoridades egípcias também começaram a fazer entrevistas coletivas em árabe e em inglês.

Em uma delas, no sábado, o assessor presidencial Mostafa Hegazy acusou a imprensa do Ocidente de ignorar atos de violência atribuídos aos ativistas islamitas, como ataques contra a polícia e a destruição de igrejas cristãs.

"Nós, como egípcios, sentimos profunda amargura ante a cobertura dos eventos no país", disse ele.

A fundação jornalística privada Al-Yawm al-Sabi anunciou planos de lançar um site em inglês, por conta do que chama de "campanhas midiáticas ocidentais tendenciosas que tentam desestabilizar o Egito, afetar sua segurança, disseminar boatos e espalhar a desunião entre seu povo".

O site, diz, oferecerá "intensa cobertura dos atuais eventos com veracidade, (usando) vídeos e fotos".

Al Jazeera

Não é só a imprensa ocidental que está sob críticas no Egito. O ministro de Informação do país, Dorreya Sharaf al-Din, ameaçou revisar o status legal da emissora al-Jazeera, do Catar, a qual acusa de ameaçar a segurança e a estabilidade egípcias.

Ao contrário das emissoras estatais do Egito, a al-Jazeera deu bastante exposição a simpatizantes da Irmandade Muçulmana. Além disso, costuma transmitir os protestos pró-Morsi no país e divulgou, ao vivo, imagens de celular gravadas dentro da mesquita al-Fath, onde manifestantes foram cercados por forças de segurança no sábado.

Jornalistas da emissora dizem ter sido assediados pelas autoridades.

O jornalista e comentarista egípcio Ahmad Samir opina que as autoridades "estão em uma situação crítica e embaraçosa, após a morte de tantas pessoas".

Para Angy Ghannam, do serviço de monitoramento noticioso da BBC - que acompanha diariamente a imprensa mundial -, houve uma mudança de foco no trabalho da mídia egípcia, pública e privada, que antes se concentrava em explicar as posições do governo militar interino à população egípcia.

"A mídia do país passou a usar muito do seu tempo para criticar a cobertura estrangeira. Mas, nos últimos dias, é notável que alguns veículos começaram a fazer uma autocrítica por não terem conseguido passar sua mensagem às audiências internacionais", diz Ghannan. E, com isso, começou uma campanha noticiosa voltada ao Ocidente.

Ahmad Samir acredita que essa tentativa de conquistar a opinião pública do Ocidente é equivocada e cita a recente renúncia do vice-presidente interino Mohamed ElBaradei (vencedor do prêmio Nobel e com amplo trânsito no Ocidente).

"ElBaradei, com sua grande experiência internacional, percebeu que o que aconteceu (no Egito) não poderia ser justificado perante o mundo. Era contra seus princípios, e ele renunciou."
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COMENTÁRIO DO OCI - Marcondes Neto

Batalha por corações e mentes.

Uma situação de guerra civil, como a que se desenrola hoje, no Egito, é ambiente complexo e a "leitura" da mesma - via mídia (sobretudo a mídia "oficial") - sempre poderá suscitar múltiplas (até contraditórias) interpretações.

A imprensa deveria ater-se à verdade factual, mas este é sempre um ideal que, ainda mais num conflito de grandes proporções, eu diria, agora, impossível de atingir.

Não qualifico as ações mencionadas no artigo como "de relações públicas", mas sim de propaganda - no melhor entendimento que se possa ter deste termo. A propaganda, inclusive, é front de que sempre lançam mão aqueles que estão em luta.

O instrumental da propaganda é o mesmo das relações públicas - e o mesmo do jornalismo, também: a comunicação por textos e imagens, mas a intenção da primeira é muito mais dirigida que as demais. E a "assinatura", clara, é o mais importante elemento da mensagem. No jornalismo, idealmente, quer-se dar espaço ao leitor, ouvinte, espectador ou internauta para formar a sua convicção.

Já as relações públicas, por sua sutileza, não estão presente no caso em questão. Nem por parte das emissoras, que não precisam de RP neste momento, nem por parte do governo. Isto porque, sutileza (em meio a um conflito como o atual, no Egito), não faz parte do vocabulário de quem detém - legalmente - o monopólio do uso da força bruta, até letal, contra seus próprios cidadãos, mesmo aqueles taxados de "terroristas".

Vou um pouco além e divago se não seria uma ação de propaganda totalmente orientada pelo Pentágono, semelhante a outras levadas a efeito junto à população iraquiana no sentido de colocá-la contra Saddam Hussein, à época da invasão pós-11 de setembro. Naquela ocasião - como nesta - é preciso "ganhar" corações e mentes dentro e fora do país.

Na guerra pela opinião, a propaganda quase sempre esmaga as relações públicas.

E já que tocamos em guerra, leia também este texto.

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